terça-feira, 15 de setembro de 2009

Meu caro amigo "UÓXINTU"... Part 3 - Final

Não leu as partes anteriores? Clica aqui "Meu caro amigo "UÓXINTU""  - part 1  -  part 2
Previously on Galho do Kmaliaum (...Mas será que nosso amigo seria feliz em sua empreitada contra a língua inglesa?)

Alguns anos depois...
Início dos anos 2000, a Informática já dominava grande parte dos interesses dos brasileiros, a internet começava a firmar-se como meio de comunicação, trabalho e ociosidade acima de tudo. Os CDs já eram realidade e os DVDs (originais, ainda era deveras cedo para os piratas) começavam a despontar, os computadores já não eram apenas máquinas gigantes de fazer conta, eram agora máquinas  gigantes de fazer bo#$%ta... George W.Bush é eleito presidente dos EUA (resultado? lembram do September 11th?)

Em torno desse quadro dantesco, nosso caro amigo Uóxintu, juntamente com seu amigo de todas as horas, o cão Fidel, ele continua a rejeitar toda  e qualquer influência da Língua da Rainha. Eu o conheci há algum tempo atrás numa situação inusitada. Uóxintu havia prometido um favor a um amigo que o acolhera após ter decidido afastar-se da vizinhança que tanto o zombava, e sair da casa de D. Britânia e Seu Klévertson, seus pais.O encontro foi (notem a ironia) na fila para a inscrição do curso de extensão de Inglês da UFPI - Universidade Federal do Piauí. ( Seu amigo Wallace o fizera jurar que ele iria fazer sua inscrição se ele permitisse que Fidel dormisse com Uóxintu  na mesma cama).


Na fila, Uóxintu relatou-me sua comovente história enquanto eu tentava passar a mão na cabeça de Fidel, que não se mostrou muito amigável (também pudera...). Então perguntei a ele se esse ódio era apenas interno ou havia algo mais. Ele  confessou-me que era tão revoltado com inglês que muitas vezes cometia alguns atos extremos (não na opinião dele!): saía à noite pichando outdoors, pois os odiava só pelo nome; uma vez chegou a quebrar todos os C.D.s e D.V.D.s de uma loja, pois enlouqueceu tentando saber o que significam essas "malditas  siglas". Ele era daqueles que não acessavam a internet, essa "coisa do capeta" (O Bush???) e não usava o Messenger, nem mandava e-mail ( ele preferia mandar inteiro. Tudo bem, trocadilho infame!), pois ele tinha seu cão Fidel pelo qual ele mandava recados, que o animal levava na boca até seu destinatário. O amigo cão era sempre prontamente recompensado com alguns hot-dogs comprados na rua, outra coisa que Uóxintu odiava pelo simples pensamento. Causavam-lhe repugnância os jogos de video-game, principalmente os de Playstation, que ele nem entendia como jogar,  porque estava  tudo em Inglês (aaahhhhhhh!!! Geezzz!!!).

Uóxintu sentia-se ainda mais  desolado: nome esquisito, mundo esquisito e excludente. Entrou em profunda depressão, depois da procura de trabalho sem sucesso - principalmente por causa de sua xenofobia, que refletia-se no seu comportamento. O stress o abateu rapidamente. Só havia uma solução: render-se. Não foi fácil, começou com pequenas doses: duas fatia de bacon e um cheese burger no primeiro dia, Lan -house, webcam e Skype duas vezes ao dia no segundo. Com uma semana já estava já havia aumentado as doses: dois reality shows de segunda a sábado, pet-shop aos domingos, que mereceu comemoração de seu cão Fidel (tava precisando de um trato no pêlo, um novo look). Algumas partes  foram fáceis para  ele - vestir jeans em vez do usual linho, andar de bike e usar ticket refeição - e até prazerosas (Playboy e Sexy). Com alguns meses Uóxintu, incentivado pelos novos amigos teen, passou a ouvir rap, reggae, dance  e rock. Ficou até um pouco mais educado (por causa do inglês???) - não virou um gentleman entretanto, mas arranjou uma namorada, pois agora ele era cool, e a levava sempre a um pub próximo; comprou-lhe até um baby doll. 

Uóxintu havia mudado. Ele havia se tornado parte da cultura dominante, havia sido manipulado. Mas quem disse que não é preciso ser marionete de vez em quando (ou de vez em sempre)? Daí pra frente, esquecendo-se de toda sua aversão e indignação, nosso amigo prosperou. Seu nome e a humilhação da juventude já não mais importavam. Tinha que mover-se de acordo com a maré. Esqueceu-se dos preconceitos que tinha, desvirtuou-se, desviando-se de sua crença aparentemente inabalável na nocividade da língua invasora: dissolveu seu slogan anti-anglicista.  Uóxintu resolveu seguir carreira de marketing, assim ele podia passar a imagem que quisesse para os outros, colocou Fidel para fazer merchandising em comerciais da Pepsi e dos Pneus Firestone.  Atualmente, depois de ter feito muito cash, ele possui um Civic, com um som potente e dois subwoofers. Em finais de semanas, vai às festas, dando uma de playboy, ou pega seu jet sky e vai curtir com seus amigos.

A vida de nosso herói mudou muito, nem se lembra mais de Dona Britânia e Seu Klévertson; e seu fiel Fidel, ele mantem preso num coleira - já está mesmo velho e cansado o pobre animal. A vida do nosso herói (???) atualmente é agitada, empolgante e variada: laptop, tablet, datashow, jantar society, workshops, blazer, smoking. Contratou até uma baby sitter que leva seu filho Will Smith (Prince of Bel-Air) para o playground enquanto ele vai fazer um cooper

 Uóxintu usa seu hi-profile para tentar aparecer um pouco mais na mídia: a última notícia que tive dele é que anda fazendo stand-up comedy, usando cabelo black power e parece até que vai se inscrever para o próximo Big Brother. Ah, meu caro amigo Uóxintu, será que perdemos um grande líder? Quem te viu e quem te vê, hein? É, acho que vou precisar voltar a distribuir meus folders e confeccionar meus banners de protesto sobre tudo isso sozinho... Ou será que volto pro meu ipod, meu game boy e meu palmtop? Dúvida cruel! Ah, dá um time e desliga essa música gospel ( "E  ainda se  vier noites traiçoeiras - nem  concordância em português o povo sabe direito...) Acho que vou ser mesmo é bad boy!!! Screw the rest!!

 Bem mesmo fez foi Dona Britânia, que deixou por quase nove meses um segredo tão bem guardado, em lugar tão seguro. Aquele recipiente - a lata de Coca-Cola Zero - foi uma espécie  de Caixa de Pandora, a cujo velho fundo medíocre muitos gostariam de poder voltar. Porém, na vida corrida, na hora do rush, Uóxintu, agora que tem know-how, virou expert , não pensa mais no passado trash, olha apenas para seu futuro de olho nos royalties de sua nova franchising, na sociedade high-tech, de novos conceitos e velhos costumes.

2 comentários:

  1. "No País que chamavam de Sol, apesar de chover, às vezes, semanas inteiras, vivia um homem de nome Antenor. Não era príncipe. Nem deputado. Nem rico. Nem jornalista. Absolutamente sem importância social. (...)"

    Conhece este texto? Se chama "O homem de cabeça de papelão" escrito por João do Rio. Em alguns momentos do seu desfecho me lembrei deste texto, que pra mim é um dos melhores que já li.

    Quanto ao seu texto, parabéns. Gostei muito do seu jeito de escrever. Mas não concordo em querer voltar ao fundo medíocre da lata preta.

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  2. Alexandre
    Ve la o final de novo. acho q ta um pouco melhor. valeu pelo apoio.
    abracoo

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